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Mogianos irão colaborar com gibi

fevereiro 15, 2011 2 comentários

Texto de KARINA MATIAS

 (Publicado “O Diário de Mogi” de 15 de fevereiro de 2011)

 O jornalista Julio Moreno, colunista de O Diário, coleta até o final deste mês fotografias, desenhos e outras lembranças que fazem parte do acervo pessoal dos mogianos referentes aos anos em que o desenhista Mauricio de Sousa morou em Mogi das Cruzes. A proposta é transformar alguns fatos da vida do desenhista no Município, contados por amigos e vizinhos, em quadrinhos, formatando um “Gibi de Memórias” do criador da Turma da Mônica.

“Nós já contamos com a adesão de alguns cartunistas e a ideia é que cada um seja responsável pela ilustração de uma historinha”, revelou Moreno, acrescentando que o projeto abrirá espaço para desenhistas já conhecidos da Cidade e também dará uma oportunidade para novos talentos. Em entrevista exclusiva a O Diário, Mauricio de Sousa se mostrou animado com a iniciativa. “Achei a ideia linda, fantástica. E, de repente, do pessoal que está colaborando, pode surgir gente que possa me ajudar depois aqui (na Mauricio de Sousa Produções). Estou precisando de profissionais”, comentou o desenhista, que nasceu em Santa Isabel, mas passou boa parte da infância e adolescência em Mogi das Cruzes. (Leia mais nesta página).

Além das contribuições obtidas junto aos mogianos, Julio Moreno pretende também retratar no gibi histórias que o próprio Mauricio já contou sobre a sua vida em Mogi. Na edição de domingo de O Diário, o desenhista revelou detalhes de sua infância e adolescência na Cidade, como o dia em que imitou Oscarito em uma quermesse no Largo do Carmo, o que lhe rendeu algum dinheiro para comprar gibis, a sua paixão já naquela época. 

As pessoas podem colaborar com a elaboração do gibi de memórias do Mauricio de Sousa enviando informações, fotos e desenhos para o e-mail juliomoreno@odiariodemogi.com.br.

Homenagem

O vereador Pedro Komura (PSDB) pretende agendar uma reunião com Mauricio de Sousa para tratar de uma homenagem que a comunidade nipônica da Cidade deseja realizar ao desenhista na 26ª Festa do Akimatsuri, que acontece em abril. Informado pela reportagem sobre a iniciativa, Mauricio disse que se sente agradecido pelo gesto de carinho, mas admitiu que não gosta de homenagens desse tipo. “Estou trabalhando quietinho, sossegado. É melhor ajudar ONGs (organizações não-governamentais) e entidades que estão precisando”, ressalvou.

Ele, contudo, achou interessante a proposta de uma moradora de Mogi das Cruzes em transformar a área do Campestre Clube em uma Praça da Turma da Mônica. Mauricio lembrou que projetos semelhantes existem em outros países, retratando personagens de quadrinhos locais. No Brasil ainda não há nada nesse sentido. “Se conseguirem fazer isso será interessante”, opinou o desenhista.

 FILHO CAÇULA É INSPIRAÇÃO PARA ECOCHATO

Aos 75 anos e mais de 50 de carreira, Mauricio de Sousa não pensa em aposentadoria. O desenhista pretende, porém, repassar as tarefas mais burocráticas para os filhos e funcionários e com isso ter mais tempo para se dedicar à criação. Novos personagens já estão em vista, sendo um deles inspirado no filho mais novo Marcelinho, de 11 anos. Será um garoto com o viés da onda sustentável, que ensinará as crianças a economizar luz e água.

Em entrevista exclusiva a O Diário, o profissional contou sobre a longa negociação para transformar o menino no mais novo personagem dos quadrinhos, que deverá ser lançado ainda neste ano. “Eu queria criar faz tempo, mas ele (Marcelinho) não queria virar personagem. Ele é muito certinho, é politicamente correto, nasceu assim, com um chip assim na cabeça, todo certinho. Eu falei: Oba, um personagem assim é legal. Eu vou criar: ‘Marcelinho, o certinho’. Quando ele tinha quatro, cinco anos, desenhei e mostrei pra ele. Ele falou legal tal, mas não queria com aquele nome. Ele disse:

– ‘Pai, eu vou pagar um mico desgraçado com esse nome aí. Na escola vão pegar no meu pé. Eu não quero ser certinho’. ‘

Para resolver o impasse, Mauricio conta que buscou um outro lado da personalidade do filho. “Ele é muito econômico. Então, vai entrar agora um personagem que vai ensinar economia pra criançada: apagar a luz, fechar a torneira. E é algo que está na moda. É super oportuno, mas é um chato. Ele vai ser um ecochato. E está cheio de ecochato por aí. Isso vai despertar, talvez, pra esse ponto: você não precisa ser um ecochato, pode usar outros macetes. Não pode falar não, não, não. Não é palavra proibida. Tem que ser: faz assim, se fizer assim é melhor. É por aí que nós vamos chegar com esse personagem novo”, explicou.

O desenhista também já planeja outros personagens, desta vez fictícios, para compor um novo universo que pretende abordar nos quadrinhos: a mogiana Rua Ipiranga, dos tempos em que morou na Cidade.  “Eu tenho ideia de fazer a Rua Ipiranga no Bairro do Limoeiro, que é onde mora a Turma da Mônica, baseado na minha rua da infância. Lá vai morar uma família de baianos, uma família de gaúchos, uma família do Maranhão ou Ceará, uma família de paranaenses, uma família do Mato Grosso. Eles vão repetir o que eu aprendi na minha infância, brincando na Rua Ipiranga”, contou.

Mauricio revelou que pretende se dedicar mais a criação de histórias em quadrinhos e deixar o trabalho mais burocrático para funcionários e filhos. “Eu pretendo inventar, criar coisas e também desenhar um pouco mais, embora eu tenha uma equipe de 200 artistas, que eu posso passar o esboço, que eles desenham melhor que eu”, observou.

Para conseguir realizar os projetos – que, incluem, investimentos na área de desenho animado e computação gráfica – ele está procurando novos profissionais. “Eu preciso de mais profissionais, principalmente, na área do desenho animado, da computação gráfica, mas também de histórias em quadrinho. Eu ainda não lancei o Chico Bento Jovem por falta de desenhista”, exemplificou.

Na entrevista, ele fala também da coleção MSP 50, Mauricio de Sousa por 50 artistas. “São desenhos de 50 dos melhores desenhistas brasileiros de todos os tempos. Eles fazem uma historinha da Turma da Mônica à moda deles”, contou. Já participaram do projeto nomes como o de Ziraldo, Laerte e Angeli, entre outros. Depois de dois livros bem sucedidos, um terceiro já é preparado. “Daqui vão sair os futuros desenhistas de publicações que vamos fazer sem ser Turma da Mônica: graphic novel, novela gráfica. Acho que vamos abrir um novo campo de atividades de quadrinhos no País e para exportação”, apostou.

 

A rua Ipiranga será recriada na Turma da Mônica

Texto de KARINA MATIAS

 (Publicado em “O Diário de Mogi” de 13 de fevereiro de 2011)

É de Mogi das Cruzes que o desenhista Mauricio de Sousa, o criador da Turma da Mônica, traz as lembranças mais marcantes e emocionantes de sua infância. Foi aqui, andando descalço pelas vias de terra, nadando em um Rio Tietê cheio de peixes, caçando (pescando, na verdade) rã na beira dos córregos, ou imitando Oscarito em uma quermesse no Largo do Carmo, que ele encontrou inspiração para personagens e histórias que fazem sucesso em todo o Brasil e também no exterior. E é da Cidade que, já há algum tempo, ele acalenta o projeto de recriar a mogiana Rua Ipiranga, dentro do Bairro do Limoeiro, onde moram Mônica, Magali, Cebolinha, Cascão e cia. O projeto foi revelado à reportagem de O Diário, em entrevista exclusiva, concedida pelo desenhista, na semana passada, em seu estúdio de criação, no Bairro da Lapa, na Capital.

Será uma Rua Ipiranga inspirada nos tempos de sua infância, no início dos anos 40, quando ele e toda a sua família viviam em dois quarteirões da via ainda de terra e de casas coloniais. “Era uma delícia, o meu condomínio. Porque quando eu e a molecada estávamos brincando na Rua e dava vontade de tomar café, conforme o lugar que a gente estava, já entrava na casa de alguém. Quase sempre dava certo de entrar na casa de um parente. Quando não, eu entrava na casa do turco, do japonês, do espanhol, do francês. Era uma verdadeira Nações Unidas. A minha turminha cresceu sem saber o que era preconceito, raça diferente, cor diferente e até comida diferente, porque a gente comia o que tinha. Entrava na casa do japonês comia peixe cru, comia sashimi. Entrava na casa do turco, da família Najar, era quibe, esfiha, tudo aquilo. A gente ia experimentando, só o que eu não gostava era quibe cru com cebola, o resto eu gostava de tudo”, relembrou.

A proposta é inserir uma Rua Ipiranga com famílias de diversas regiões do País: baianos, gaúchos, paranaenses, cearenses, entre outros. “Talvez seja uma revista na linha educacional”, contou ele, que busca novos artistas, desenhistas e roteiristas para desenvolver este e outros projetos, como o do Chico Bento Jovem e outros ligados à área de computação gráfica, cinema e desenho animado.

No bate-papo de uma hora e meia com O Diário, Mauricio recordou de momentos de sua infância e adolescência em Mogi, do início da carreira profissional como repórter policial e dos inúmeros planos. O desenhista também falou da abertura de um Parque do Cebolinha, mais ‘ladical’ que o da Mônica, e da vontade de fazer um Centro Cultural dentro dos próximos cinco anos. Ele, que no passado tentou instalar o atual estúdio em um terreno no Taboão, em Mogi, não descarta a Cidade como sede do futuro empreendimento, que reunirá escola de teatro, cinema, música e desenho animado. A conversa foi entremeada por ilustrações que o próprio Mauricio foi fazendo, tendo destaque o desenho da primeira versão que fez do dinossauro Horácio, para um baile dos alunos do Instituto de Educação Dr. Washington Luís. Confira a seguir, os principais trechos da entrevista:

Infância em Mogi

As coisas mais marcantes de infância, de sensações, eu passei em Mogi. Era uma Cidade gostosa, relativamente pequena, com 30 mil, 40 mil habitantes, onde todo mundo se conhecia. Então, era uma Cidade com rostos, sensações, sentimentos bons ou maus, mas estava lá tudo vivo. A infância foi ótima.

 Peripécias

O meu avô paterno (Adelino Toledo) era motorista de caminhão, e ele ia lá para o chamado sertão. Sertão era a Serra do Mar. Ele ia para o Sertão buscar coisas que naquele tempo o pessoal pegava, como palmito, que hoje não pode mais. E cada vez que ele chegava do Sertão, ele trazia um animal e soltava na cozinha da casa da minha avó. Era a festa da criançada: filhote de onça, preguiça, macaco, tatu. Não tínhamos medo. Era divertido pra burro (risos). O meu avô fazia aquele estardalhaço e jogava para assustar a minha avó. Era aquela gozação toda. Como tinha muito mato, depois o animal saía pelo matagal. Duas preguiças que ele trouxe ficaram nas árvores do jardim durante muitos anos. Era uma conquista da Cidade as duas preguiças.

 Histórias da avó

Tudo o que eu tinha que viver na infância, eu vivi lá (Mogi). No fim do dia, a criançada se reunia na casa da minha avó (Benedita Rodrigues), que era a maior, e ela contava histórias. A maioria era história da carochinha, histórias que eu leio hoje, conhecidas, que ela contava, algumas vezes, à moda dela. Outras ela inventava, fazia histórias de assombrações. Depois eu ilustrava e fazia um cineminha em rolinho para a turminha. Eu fazia um caixote, fazia uma telinha, daí puxava a criançada pra assistir meu cineminha com a história que a minha avó contava. E essa minha avó paterna era analfabeta. Onde que ela aprendeu tudo aquilo? Era a cultura oral que era muito rica naquele tempo. Ela é a avó Dita, que eu criei um personagem, que é a avó do Chico Bento. Se a minha avó contava história, meu avô contava causo, que é mentira, que é para tirar sarro (risos).

 Pai

Eu vivi a minha infância entre Mogi e São Paulo, porque papai (Antonio Mauricio de Sousa) era barbeiro, poeta, jornalista e trabalhava em rádio e ele era muito envolvido com críticas sociais, políticas e religiosas. Ele tinha um jornalzinho crítico, tipo o velho Pasquim, que ele rodava no fundo da barbearia dele, em uma linotipo. E o jornal, geralmente, metia o pau nos políticos, nos poderosos e em algumas áreas da Igreja. Então, ele vivia sendo realmente expulso de Mogi. Mas eu vivi mais em Mogi do que em São Paulo. Fiz o Ginásio (atualmente Ensino Fundamental) completo na Cidade, no Instituto (de Educação Dr. Washington Luís).

Adolescência

Fui um cara normal. Eu era tímido, eu não tinha coragem de namorar as moças que gostava. Tenho várias ex-namoradas que nunca souberam que foram minhas namoradas. Acho que era algo mais que platônico. Eu nem olhava para elas de vergonha, de medo. Naquele tempo, eram realizados bailes no chamado Itapety Club e também tinha os bailinhos da escola, que o grêmio fazia. Mas desde cedo, por forças das circunstâncias, por causa dessa vida do papai, que era artista, era jornalista, depois não era, dava certo, não dava, eu tive de trabalhar, ganhar o meu dinheirinho. Eu comecei a trabalhar em desenho. Fazia desenhos, cartazes para as professoras usarem em aulas e cobrava por isso. Mas eu tinha vergonha de cobrar. Daí então, um amigo do papai, chamado de Bruno Castiglione, que trabalhava na Rádio Marabá, me chamou para trabalhar com ele como auxiliar para me ensinar a cobrar pelo desenho. Porque, normalmente, o artista é tímido pra isso. Mas ele falava: ‘Esse daqui você tem que cobrar 50 cruzeiros’. E eu falava: ‘50 cruzeiros? Mas vão pagar?’. E ele falava: ‘Vai comigo que você vai ver’. E pagavam. Com três cartazes, eu conseguia pagar o aluguel da minha casa. Eu falei oba! Os cartazes eram educativos, para dar aula. Trabalhei em rádio também, lá na Marabá. Eu fui cantor, locutor, apresentador, comediante, fiz teatro. A família toda estava ligada à arte. Mamãe (Petronilha Araújo de Sousa) teve um programa famoso, chamado “Rancho Fundo”, o pessoal mais antigo deve lembrar.

Oscarito no Largo do Carmo

Eu era tímido no contato pessoal, mas com o público não era não. Na rádio, eu era outro, travestia outra personalidade. Eu me lembro de um episódio que aconteceu antes ainda da rádio. Eu tinha uma irmã, falecida já, a Marisa, ela dançava muito bem, cantava também. Uma vez nós fomos numa quermesse no Largo do Carmo, cheio de gente.  A criançada começou a brincar de roda. Eu devia ter 10, 12 anos. E a Marisa começou a dançar e eu entrei junto, comecei a dançar com ela. Só que ela dançava bonitinho e eu dançava de forma caricata. Naquele tempo estava na ordem do dia dois artistas de cinema chamados Oscarito e Grande Otelo, que faziam uma palhaçada. E eu imitava o Oscarito, principalmente, e às vezes, imitava também o Charles Chaplin. E o pessoal começou a juntar em volta de nós. Estávamos fazendo muito sucesso. Terminamos o número de dança, começaram a jogar moedas para nós. Eu adorei aquilo, porque podia comprar gibi. O meu negócio era comprar gibi. Falei com a Marisa: ‘Amanhã a gente volta aqui, vem dançar de novo’. Era uma semana inteira de quermesse. No dia seguinte, fomos lá de novo e ganhamos mais dinheiro. Até que chegou sábado, a minha mãe e a minha madrinha foram até a quermesse, viram aquele bolo de gente e foram ver o que é era. Quando viram que era a gente e que o pessoal estava jogando moedas para nós, morreram de vergonha. Mas antes mesmo delas puxarem nossa orelha e tirarem a gente de lá, veio o administrador da quermesse e nos proibiu de dançar, porque a gente estava prejudicando o movimento das barracas (risos): ‘Não pode, não pode, não pode fazer dancinha, não pode fazer rodinha’. Cortaram a minha carreira de bailarino naquela quermesse. Que pena. Daí ainda cheguei em casa e levei bronca da minha mãe. 

 Cebolinha e Cascão

 

O Cebolinha e o Cascão eram garotos que jogavam bola com o meu irmão (Márcio de Sousa) lá no morro do São João. Eles realmente existiram. O Cebola mora até hoje em Mogi e ainda fala errado. Recentemente, eu estive em Mogi e não sabia exatamente onde é que eu entrava, e o único telefone que eu tinha era o do Cebola. Liguei pra ele:

–         Cebola, como é que eu chego até aí?

–         Ah você pega a ‘lua’ tal, tal

–         Cebola você ainda não aprendeu a falar, eu não estou entendendo o que você está falando.

E realmente eu não estava entendendo, porque ele tava trocando tudo. E o Cascão era amigo do Cebola, mas sumiu. Tem um cara lá (em Mogi), que diz que é o Cascão, mas não é. O Cascão de verdade sumiu quando era criança ainda, deve ter mudado de cidade ou ficado com vergonha. Ele não tomava banho mesmo. E o Cebola tinha o cabelo assim de cebola mesmo e falava errado (e começa a desenhar o personagem). Agora, ele não tem mais cabelo (risos).

Chico Bento e Magali

O Chico Bento é o meu tio-avô, que morava numa zona rural entre Mogi e Santa Isabel. Consta que ele é pai da minha babá. Está vivo ainda, vou verificar isso. Acho que eu tenho uma foto dele, de 100 anos atrás (risos). A Magali nasceu em Mogi. Ela comeu as primeiras garfadas em Mogi.

Saraus em uma funerária

Papai era cantor, fazia músicas. Toda semana em casa havia um sarau, chegava o pessoal para declarar poesia e cantar. E eu acompanhando tudo aquilo. Às vezes, vinha tanta gente, que não cabia em casa. A casa era pequena (na Rua Ipiranga), a gente ia para minha avó, mas o meu avô era motorista, queria dormir cedo. Então, tinha uma loja funerária, cheia de caixões. Lá dava para botar o pessoal pra cantar, declamar. Eu ficava sentado em cima de um caixão assistindo aquilo (Risos).

 Cantor

Naquele tempo, ainda não cantava. Depois, a mamãe descobriu que eu sabia cantar, daí me botou pra cantar em rádio, em tudo quanto é lugar. Um dia me rebelei, não quis mais cantar. Além disso, eu lembro de tudo da infância, de cheiro, detalhe, cor, sensações. E é bom o pessoal todo saber que criança lembra muito bem. Ela lembra de tudo, do bem e do mal, de quem cuida bem e de quem cuida mal.

 Tietê

A minha madrinha morava na Rua Tietê (hoje Cabo Diogo Oliver). Ela morava em um lugar (começa a desenhar), aonde o Rio vinha até a beirada da cozinha. Eu acordava, tomava café e mergulhava no rio. Era assim (faz o gesto com as mãos) de peixe. Depois que mergulhava e brincava, eu pegava uma bacia de latão, subia e ia pescar no meio das árvores. Enchia de peixe e levava para comer. E quando não tinha muita água, tinha os riozinhos (afluentes do Tietê), que eu ia caçar rã para comer. Só que na casa da minha madrinha e da minha avó materna, eles achavam que rã era sapo. E eles não admitiam que eu pusesse sapo na cozinha deles. Eu não conseguia convencê-los de que rã não era sapo. Então, quando eles iam embora, eu ia lá, preparava tudo e fritava sozinho. Eu tinha uns 8, 9 anos. Quando anoitecia, que era a melhor hora, eu ia com lanterninha de carbureto, que é um barro, que você põe fogo e ilumina. Então, você pega aquele barro, põe na lata, bota fogo e ilumina. Íamos eu e os moleques à beira do rio e em uns banhados – hoje não deixaria o meu filho fazer isso. Mas o problema é que a rã é muito esperta. Ela ouvia barulho dá gente pisando ou sentia a vibração e fugia. Eu pensava: como é que eu ia conseguir pegar essas desgraçadas? Em vez de ficar de noite mesmo, no lusco-fusco (entardecer), eu levava vara de pescar, um anzol, minhoca e punha a minhoca inteirinha no meio do anzol e botava lá na beira da água, no gramadinho. Daqui a pouco, eu pescava a rã. Era muito mais fácil. (Risos).

Mogi hoje 

Tenho parentes na Cidade. Além disso, desenvolvi uma técnica para não esquecer ou não largar da Cidade: eu voto em Mogi. Por isso, a cada dois anos, eu devo ir pra Mogi. E aproveito e faço o meu tour, vou ver o pessoal conhecido, às vezes aviso, outras chego de susto. É gostoso. A Cidade teve pioras e agora está melhorando. Está havendo uma evidente tentativa de modernizar a Cidade, torná-la mais bem servida, com melhorias de acesso e tudo mais. Não está bom, porque cheira um pouco de remendo. Devia ter mais coragem de arrebentarem coisas e fazer melhor. Faltou em algum momento, talvez nas administrações mais pra trás, de um Plano Diretor, de uma coragem, quando a Cidade permitia e não era tão caro. Agora está mais caro, mais difícil. Mesmo assim, qualquer dia chega alguém lá corajoso e dá uma remendada certa na Cidade em algumas áreas. Eu vejo muita coisa ainda, principalmente, nos bairros periféricos, que está errado, não está bom. Estão permitindo favelização, estão permitindo construções desordenadas. E não é falar é proibido. É falar não faz aqui, faz ali e a gente te ajuda, dá uma orientação. Isso não é problema só de Mogi. Mas eu sinto, passando pela Cidade, que está melhor do que há 20 anos.

 Repórter Policial

Eu sai de (Mogi) com uns 18 anos para tentar a sorte em São Paulo. Procurei emprego de desenhista, não consegui, tinha uma vaga de repórter, fui fazer reportagem policial. Fiquei numa boa durante cinco anos fazendo reportagem policial, até que me lembrei que tinha ido lá para fazer outra coisa. Eu queria fazer desenho, o que estava fazendo lá mexendo com criminosos, estelionatários, desastres e tudo mais? Eu realmente não gostava muito disso, mas era divertido. Pensa: para um rapaz de 18 anos, 19 anos, vestido à la Dick Tracy (detetive popular dos quadrinhos americanos), com chapéu, capa e tudo mais, tendo um fotógrafo ao meu lado para apanhar no meu lugar – porque é o fotógrafo que apanha na reportagem policial, em outras áreas não, porque o pessoal quer aparecer. O cara bateu a foto o pessoal já vai em cima. Bang! Arrebenta tudo, arrebenta a máquina, o cara, tudo – E tinha também um motorista e um jipinho à minha disposição. Eu não queria outra vida, eu me sentia realmente um detetive americano, pronto para ajudar a Polícia a desvendar mistérios, crimes. E fazer coisas que, às vezes, a Polícia não ia atrás. Era uma aventura, mas eu queria desenhar. E eu desenhava cada vez mais. As matérias que eu não conseguia fotografia, eu desenhava. E, ao mesmo tempo, naquele tempo eu já queria fazer história em quadrinho, já estudava como é que funcionavam os quadrinhos americanos na venda, na distribuição, na cobrança pelo material que eles mandavam pra Folha (Folha da Manhã, atualmente Folha de S. Paulo, onde ele trabalhava) e pra todo mundo. Com isso, eu aprendi como funcionava esse mercado, a clientela, quem comprava, como é que era e tudo mais. Foi bom, porque quando eu resolvi sair da reportagem, eu estava preparado para fazer o que eu fiz: tirinhas de jornal, montar uma equipe e redistribuir para outros jornais. Em 10 anos, com esse sistema, nós atingimos mais de 300 jornais do Brasil. Eu falo nós, mas era eu. Agora somos nós, naquele tempo era eu mesmo, desenhando e escrevendo sozinho. Depois fui formando a equipe e fomos ficando nós. Desde aquele tempo, eu já queria fazer revista, desenho animado, parque temático. Ou seja, eu já tinha plano de fazer tudo isso que eu faço hoje. Eu só não tinha imaginado a Internet, porque ninguém sabia que ia existir. O resto eu tinha imaginado tudo.

Carreira internacional 

Agora estamos entrando em muitas revistas e suplementos infantis na China. Meu escritório em Nova York e uma agência em Hong Kong estão conseguindo isso. O Itamaraty e o governo chinês estão colaborando. Uma parte do material é para escolas só da área de Shangai. No restante, como são 180 milhões de crianças, eles mandam pela web para não gastar papel. É um novo sistema.

 Gibi na Internet

 Os gibis devem ir para a Internet também, embora eu ache que o gibi tenha uma capacidade de adaptação, de estar presente na mão da pessoa muito forte. Eu acho que vamos conviver com o gibi no formato atual e no virtual. Como houve o convívio entre cinema e televisão, rádio, tudo mais. A Internet é uma facilidade, uma ferramenta maravilhosa, que tira a bola de ferro do pé, do artista, do empresário, de todo mundo. Mesmo agora, eu cheguei aqui (no estúdio) e já fui dar uma olhada se chegaram desenhos e capas que eu tenho de aprovar agora. Aprovo material daqui, material da Itália, material do Japão, dos Estados Unidos

 Parque da Mônica em Mogi

Não sei. Eu desenho o parque, mas são os investidores que acham o local melhor para o parque não ficar um monumento, e sim ficar uma coisa que tem público e tudo mais. Anos atrás eu queria fazer um estúdio de produção, como este que daqui, lá no alto da Serra (do Itapeti), mas depois tive problemas políticos. Nem todo mundo da administração apoiava. Eu tinha gente para investir no estúdio, mas perdemos a oportunidade. Agora pretendo fazer um Centro Cultura, que vai ter um estúdio, uma escola de arte, teatro, cinema, filmagens, desenho animado. Pode ser em qualquer lugar, porque neste caso independe do público. E Mogi tem umas áreas boas, de fácil acesso, principalmente, ali perto da Ayrton Senna. E a área que eu tinha pensando para o estúdio, ta lá ainda. É perto da GM (no Taboão). Quem sabe. Preciso ver como é que vai a economia, como vamos nós, como vai estar o dinheiro. O nosso centro vai ser legal. Em cinco anos, acho que estará pronto.

 Parque da Mônica em São Paulo

Nós tivemos um atraso aí, porque alguns investidores não concordaram com algumas coisas que a gente estava propondo. Estamos desenhando e há shoppings interessados. Só que pulou na frente o Parque do Cebolinha. Então é possível que o Parque do Cebolinha saía antes do da Mônica. E é um parque com uma proposta diferente para moleque mais “ladical”. É ao ar livre. O Parque da Mônica não, tem que ser indoor, para criança pequena. Já tem desenhos lindos do Parque do Cebolinha, mas não posso divulgar. A ideia é que ele esteja pronto neste final de ano. Já temos o lugar, mas não posso divulgar. Já o Parque da Mônica, por força da circunstância, levará mais um ano e meio.

 Videogames

Deve sair este ano ainda, várias jogos. Será para crianças de até oito anos. Os jogos mais sofisticados são para as crianças de 8 anos. Um grupo americano é que está desenvolvendo os jogos.

APL 

Ontem (dia 3 de fevereiro) participei da minha primeira sessão (na Academia Paulista de Letras). Foi gostosinho. Bem, eu tenho que me adaptar à língua deles. Eu li muitos livros, leio muito, acho que conheço muita coisa de literatura, mas eu leio, eles fazem. Tenho agora que entrar no ritual: eles falam, levantam, declamam poesias. Eu fico lembrando das reuniões do meu pai. Eu gosto, é tudo um aprendizado. De certa maneira, vai me obrigar a ler mais, já que todos eles me mostram seus livros e falam: ‘Mauricio eu quero que você leia’. A gente lê e, na medida do possível, tem que elogiar. A solenidade de posse já foi marcada, será na quinta-feira depois do Carnaval.

 Projeto educacional

Temos com muitas editoras, algumas coisas com o Governo. Com o Ministério da Educação ainda não conseguimos o que eu queria, que é um projeto, igual da China, para entrar na pré-escola. Algumas escolas estão conseguindo alfabetizar, de forma experimental, crianças em três, quatro meses com métodos ligados aos personagens da Turma da Mônica.

Planos 

Tem muita coisa acontecendo. A última é fazer revistas em diversos idiomas dos países do Mercosul para aproximar as crianças desses países a se conhecerem melhor e não ficarem isoladas. Para fortalecer isso, eu estou criando uma Associação de Desenhistas do Mercosul para orientá-los para criarem o que eu crio aqui em seu país. A ideia é a gente misturar os personagens. Isso é um trabalho para os próximos anos. A gente luta muito para esse tipo de atividade nossa realmente ficar mais forte, com melhores objetivos sempre, e poder usar todas as plataformas, desde o papel, cinema, televisão, internet, blog, games, tudo que vier aí, I-pad, I-pod.

 BUSCA PELO AVÔ ESTÁ PERTO DO FIM E RENDE HISTÓRIAS

A busca do desenhista Mauricio de Sousa pelo avô paterno biológico está perto do fim. “Já tenho dois avôs em potencial, em um deles vou fazer um teste de DNA. Os filhos deles estão vivos. A minha família vai dobrar de tamanho”, revelou. Uma das possibilidades, segundo sinalizou ele, aponta para o pai do ex-combatente Miled Cury Andere, que chama José Cury. “Está quase, quase. Se as coisas andarem como eu estou achando, o Miled passa de ex-professor, que eu conhecia dos tempos de Ginásio, para meu tio”, revelou.

Mauricio de Sousa já tem certeza que a família é de origem árabe, mais especificamente, sírio-libanês. “Nos velhos tempos era turco. Acontece que, no começo do século passado, o Brasil não tinha relações diplomáticas com a Síria ou com o Líbano. O pessoal pra vir pra cá tinha que passar pela Turquia e pegar o documento de turco. Por isso, que todo sírio-libanês é turco. Ele (o meu avô) era dono do maior do maior mercado de lá (Mogi). Só que lá tinha mais de um dono. Eu quero ver qual dos donos que é ele”, contou.

Ele explica que o objetivo dessa busca é conhecer a origem, a história do seu pai Antonio Mauricio de Sousa, que ficou escondida durante várias décadas. “Papai é filho de um primeiro romance da minha avó (Benedita Rodrigues). Depois a minha avó casou com esse meu avô (Adelino Toledo) que era motorista. E pensa: um motorista de caminhão querendo saber da história do ex da mulher. Não quer nem saber, se alguém falar, ele passa o caminhão por cima. O pessoal tampou a boca e morreu o assunto durante décadas, décadas e décadas. Eu que estou levantando. Meu avô não está mais aí mesmo para passar o caminhão por cima de ninguém”, brincou. Durante a busca, ele relata que está descobrindo outras histórias paralelas sobre a Cidade e seus habitantes, que pretende divulgar posteriormente.

O barbeiro e a dançarina de tango

Sigo recebendo contribuições para a confecção do “gibi de memórias” dos anos vividos por Maurício de Sousa em Mogi. Delas, alguns “causos” retratam também seus pais, Maurício e Petronila.

Seo Maurício era barbeiro, lá pelo final dos anos 50 e início dos anos 60 do século passado, ele tinha uma barbearia na avenida Getúlio Vargas. Paulo César Ambrósio, hoje engenheiro radicado em Santos, era um dos seus fregueses.

Na ocasião, ele tinha uns oito, nove anos. Os tempos eram difíceis, ele levava uma vida simples, morando no “fim” da cidade, mais precisamente na região do ponto final do ônibus “São João”, hoje caminho para Bertioga. Por ali ficava também a barbearia do pai do desenhista.

“Meu corte de cabelo preferido era o “americano”. A barbearia era muito simples e o detalhe interessante eram as “tirinhas” coladas em madeira (ou papelão ?) penduradas pelas paredes, com historinhas do Bidu e do Franjinha, que eu sempre lia esperando a minha vez. A assinatura nas tirinhas não deixava qualquer dúvida quanto ao autor.  Era tão óbvio, para mim, que qualquer questionamento tornava-se desnecessário”.

Certo domingo, ao ler a Folha de S.Paulo, que seu pai comprara, Paulo teve uma surpresa, vendo as tirinhas do Maurício publicadas no jornal.  “Pensei comigo: “Caramba! As historinhas do seo Mauricio no jornal! Ele ficou famoso!” E lá fui eu, no meu próximo corte, dizer a ele que tinha visto suas criações na Folha.”. Após ouvi-lo com toda atenção, o barbeiro explicou que o verdadeiro autor era seu filho, que se mudara para São Paulo.

Paulo confessa que ficou decepcionado. Seo Maurício, por sua vez, deve ter ficado tri honrado: pelo reconhecimento do trabalho do filho, pelo garoto do corte “americano” ter imaginado que ele era o autor das tirinhas e, além do mais, porque a decoração de seu humilde estabelecimento despertava a imaginação das crianças e jovens.

Também lá pelo início dos anos 60, o leitor José Fernandes, hoje professor  aposentado, conheceu Maurício e sua mãe, que todos chamavam de “dona Nila”.  Ela era miúda de corpo, mas tinha presença marcante por causa de sua alegria, espírito alegre, diferentemente do marido, mais fechadão, ainda que boa gente.

José freqüentava os bailes do União F.C. e toda vez que o conjunto musical tocava tango ele ficara de fora da pista, por não saber dançar. Dona Nila, por sua vez, dominava a arte com muita elegância, impressionando a todos.

Na roda de José tinha duas primas do Maurício, Ditinha e Guiomar, filhas de dona Anália, irmã de dona Nila. Aproveitando a proximidade, certo dia ele criou coragem e pediu para ela ensiná-lo a dançar tango. Ao que ela respondeu: ”Vamos para a casa do meu filho”. Maurício morava, então, numa casa da rua Otto Unger, a última de uma vila em frente ao supermercado Shibata.

“Como era época de Natal, o Maurício havia enfeitado a árvore de Natal com cascas de ovo todas desenhadas com motivos natalinos. Naquele dia mostrou-me as primeiras matrizes dos desenhos inspirados nas filhas Mônica e a Magali. Achei interessante, mas não dei maior importância, porque queria mesmo era aprender a dançar tango”.

José trabalhou com dona Anália na Cia. Suzano. “Muito anos se passaram, , a encontrei e perguntei: e o Maurício ?  Ela contou que por diversas vezes ele vinha de Caçapava com Dona Nila, embarcando-as num avião”. Destino: a Disneylândia. 

                                                            Júlio Moreno

(Publicado em “O Diário de Mogi” de 12 de janeiro de 2011)

Um imortal de voz afinada

O Maurício de Sousa que virou desenhista, que virou empresário internacional, que virou imortal da Academia Paulista de Letras, quase virou cantor na juventude. E agora, aos 75 anos, ele voltou a provar que tem dom para a coisa.

Há poucas semanas, estreou em São Paulo o espetáculo “Cadê o Papai Noel ?”, com a Turma da Mônica, sob a direção de Mauro, um dos filhos do desenhista. Incentivado pelo irmão Márcio, autor das melodias do show, Maurício de Sousa gravou a canção final do musical. 

“Deu para matar as saudades dos meus tempos de rádio”,  escreveu ele para seus seguidores no Twitter. Quando jovem, Maurício trabalhou na Rádio Marabá, para ajudar a colocar um dinheiro a mais em casa, em paralelo aos seus estudos e aos desenhos.  Isto em plena época de ouro do rádio, os anos 40 e 50.

O ambiente musical lhe era próximo. Seu pai, Antônio, era barbeiro, poeta e compositor sazonal. Chegou a trabalhar no cast das radionovelas da Rádio Cruzeiro do Sul, na Capital, e depois também passou pela Marabá. Dona Petronilha, sua mãe, igualmente curtia muito música e dança.    

A cantora da família, como lembra o próprio Maurício, era sua irmã Mariza. “E de tanto que cantava bem, meus pais começaram a levá-la para os principais programas de calouros das rádios de São Paulo”. Maurício, ainda de calças curtas, ia junto como acompanhante. Um dia Mariza teve uma crise de bronquite e o produtor deu a idéia de substitui-la pelo irmão.  “E lá fui eu para o microfone. Como eu conhecia todas as músicas que minha irmã cantava, não tive medo. Era como se fosse uma brincadeira. E o resultado foi ótimo! Ganhei o 1º lugar. E foi aí que a coisa pegou…”.

Dona Petronilha, entusiasmada, apostou no filho, cuja voz afinada parecia com a do ator e cantor  espanhol Joselito. Toda semana eles iam a novo programa de calouro, que tinham orquestra própria, eram transmitidos ao vivo e atraiam grande público para os auditórios das emissoras.

Numa manhã de domingo de 1947, conta o jornalista Celso de Campos Jr., eles saíram de Mogi e foram até o prédio 22 da rua Quintino Bocaiuva. Ali funcionava a Rádio Record, “A Maior”, uma das líderes em audiência. Seu programa de calouros era comandado por Randal Juliano, auxiliado por um certo Barbosinha, encarregado de animar o auditório e os concorrentes.

“Para aquela audição, Maurício escolhera nada menos que a épica Granada, do compositor mexicano Agustín Lara”, prossegue Campos Jr. A pronúncia do espanhol lhe foi ensinada pelo pai. “Com a grande orquestra da PRB-9 preparada para acompanhá-lo, Maurício subiu ao palco. Já nos primeiros versos, a platéia fez silêncio para ouvir o menino prodígio. Confiante, o cantor seguiu em frente e só parou para tomar fôlego um pouco antes de soltar a voz nos últimos versos da bela canção: “Granada, tu tierra está llena de lindas  mujeres, de sangue y sol !”. Aplausos calorosos para Maurício; dona Petronilha não disfarçava a felicidade”.

Ao final, Randal Juliano anunciou mais uma vitória do “mogiano”. Imediatamente, Barbosinha “pôs o menino em seus ombros e saiu a dar voltas pelo auditório. A platéia aplaudia Maurício, e Barbosinha pedia mais. Alvoroço. Delírio. Frenesi”. A descrição é de Campos Jr., biógrafo de Adoniran Barbosa, na época mais conhecido como Barbosinha.  

Logo depois, as carreiras de ambos tomaram outros rumos, eles nunca mais se viram, mas hoje são dois  imortais.

                                                                                                                       Júlio Moreno

(Publicado em “O Diário de Mogi” de 08 de dezembro de 2010)

“Maurício esteve aqui”

outubro 27, 2010 1 comentário

Maurício de Sousa completa hoje 75 alegrias. Isto mesmo, uma pessoa como ele, que semeia a vida feliz, não mede a idade cronológica apenas por anos. Que o diga o advogado e radialista Fernando Teixeira Guedes, amigo de Maurício nos anos passados em Mogi das Cruzes nas décadas de 40 e 50.

Juntos, eles estudaram no Ginásio Estadual e Escola Normal (atual Instituto de Educação Dr. Washington Luis) e trabalharam na Rádio Marabá. Uma das características do Maurício na época era levar consigo uma flautinha de lata, cor preta, encontrável em qualquer bazar ou armarinho. Quando menos se esperava, ele a tirava do bolso e imitava o “há, há, há” do Pica Pau do desenho animado, contagiando de risos os circunstantes.

Fernando Teixeira Guedes foi um dos leitores que atenderam ao meu pedido para contarem suas recordações da vida do talentoso desenhista em Mogi. Minha proposta é juntar essas histórias numa espécie de “gibi de memórias”, a ser presenteado a Maurício, em nome da comunidade mogiana, por ocasião de sua posse na Academia Paulista de Letras. A eleição será  em dezembro e ele, por enquanto, é o candidato único.

Outra marca de Maurício em sua juventude mogiana era deixar em todo lugar que passava o seu “logotipo”, o desenho de uma pequena coroa sobre a frase “Maurício esteve aqui”. O amigo Fernando lembra que “isso era encontrado nos lugares mais inusitados: salas de cinema, locais de exposição e até mesmo em cantinhos do gabinete do prefeito Aldo Raso”.

Mas certa vez, ele se superou. Naqueles tempos, a “saudosa Rádio Marabá”, conta Fernando,  era dirigida por René Sales. Ele possuía em seu escritório um velho cofre Bernardini, coisa de museu. “Certo dia, o René, ao remexer em seu cofre, encontrou no interior da gavetinha onde guardava seus documentos mais secretos, um papelucho cuidadosamente dobrado. Abriu e surpreendeu-se. No papelzinho, estava inscrita a célebre coroazinha e ‘Maurício esteve aqui’”.

Como ele conseguiu realizar tal façanha ? “Não sei… Talvez uma cumplicidade com o Houdini, o mágico”, diz Fernando, provavelmente outro cúmplice na brincadeira.

Outro leitor, o advogado Fred Nagib, me contou que o inspirador do personagem Cebolinha hoje é um pintor de paredes. Há uns cinco anos, ele contratou seus serviços e resolveu checar “a mais famosa troca de letras da literatura nacional, de Mogi para o mundo !”. Mesmo tendo obtido uma resposta afirmativa do pintor, Fred ficou ressabiado, pois na conversa não rolou nada do tipo “pintula de palede blanca”

Ao tirar a dúvida com um companheiro do pintor, ele se deu por satisfeito ao ouvir o seguinte argumento:  “É que você não teve a oportunidade de vê-lo nervoso!..”. 

Em breve, contarei outras histórias. E sigo na espera de novas contribuições, que devem ser enviadas ao e-mail juliomoreno@odiariodemogi.com.br

Três desenhistas da cidade já se voluntariaram para me ajudar na edição do “gibi de memórias”. A idéia inicial era produzir apenas um exemplar da publicação, mas por sugestão do empresário Toninho Andere mudei de pensamento.

Agora, além do exemplar a ser dado ao Maurício, teremos mais dois. Um deles será doado à Biblioteca Municipal, para consulta pelos estudantes. E o outro será doado à Associação dos Voluntários da Santa Casa, para ser leiloado, com o objetivo de arrecadar fundos para o hospital. Vai que aparece um bilhetinho do Maurício no berçario….

                                                                                                                    Júlio Moreno

(Publicado em “O Diário de Mogi” de 27/10/10) 

Dona Bidu quer rever desenhista

Texto de MARA FLÔRES

                                      (Transcrito de “O Diário de Mogi” de 23/10/10)

Moradora da Rua Ipiranga, Benedita Aparecida Dias Lemos é conhecida como a dona Bidu, nome que também dá vida ao cãozinho que acompanha o Franjinha nas aventuras da Turma da Mônica. Ela nunca soube ao certo se o famoso cachorro ganhou tal denominação por conta do apelido que a acompanha desde a infância, mas conta que ainda muito jovem conheceu o responsável pela criação do personagem azul, o desenhista Mauricio de Sousa, que viveu muitos anos em Mogi das Cruzes, cidade que inspirou figuras conhecidas do mundo dos quadrinhos. Dona Bidu tem, inclusive, fotografias do famoso cartunista e espera a oportunidade de poder rever o amigo, o qual há alguns meses tenta descobrir, na Cidade, quem é o seu verdadeiro avô paterno.

“Fui amiga da avó do Mauricinho, a dona Benedita, mas nunca soube dessa história do avô porque sempre conheci o seu Adelino de Toledo. Só fiquei sabendo há pouco tempo que ele não era o avô verdadeiro, mas tenho certeza que se meu pai (José Dias Filho) ainda estivesse vivo, saberia quem é. Meu pai devia saber isso”, comentou a dona de 81 anos que ganhou o apelido Bidu por conta da famosa intérprete lírica brasileira Bidu Sayão. “O meu pai sempre dizia que a dona Benedita tinha sido uma jovem muito bonita, de traços pequenos, delicados”, acrescentou. 

Dona Bidu diz que conheceu Mauricio de Sousa, ou melhor, Mauricinho, como se refere a ele, “toda vida”, já que também morava na Travessa Ipiranga, onde o desenhista viveu com a avó. “Ele sempre trabalhou e ajudava os amigos, fazendo desenhos e pintando. Tenho recordações dessa época. Uma amiga falou da iniciativa do jornal e disse para eu reunir tudo o que tenho do Mauricio e mandar para vocês. Vou fazer isso”, disse a mogiana, que é seis anos mais velha que o desenhista e guarda, num lugar especial do álbum, a foto em que estão, na Praça Oswaldo Cruz, Maurício, a mãe Petronilha e as irmãs. Além dessa fotografia, ela fez questão de mostrar, ao fotógrafo de O Diário, a casa onde o cartunista viveu na Travessa Ipiranga, também conhecida como Vila Dias.

Na próxima semana, Mauricio de Sousa completará 75 anos e ele é o primeiro representante do Alto Tietê a concorrer a uma cadeira da Academia Paulista de Letras (APL) – a eleição acontecerá em dezembro. Por conta dos seus laços com Mogi das Cruzes, cidade da qual sempre fala e onde esteve recentemente a procura de pistas do avô, o jornalista Julio Moreno, colunista de O Diário, lançou o desafio de criar um gibi para contar a história do desenhista em Mogi. Para isso, tenta reunir o máximo de fotografias, desenhos e outras lembranças que fazem parte do acervo pessoal dos mogianos para servir de referência aos quadrinhos que serão criados por um artista local. 

Assim como dona Bidu, que ainda sonha rever o amigo, quem tiver qualquer lembrança da passagem de Mauricio de Sousa por Mogi pode enviar o material para o e-mail juliomoreno@odiariodemogi.com.br .

As memórias de Maurício

                                             (Editorial de “ODiário de Mogi” de 20/10/10)

O desenhista Mauricio de Sousa está buscando desvendar a própria história. Ao cruzar a casa dos 74 anos, o criador de uma das mais importantes obras literárias infantis procura por parentes distantes para compor a árvore genealógica familiar. Ele iniciou a procura por suas raízes com uma incursão por Mogi das Cruzes, Cidade onde passou a infância e adolescência, e viu nascer, anos mais tarde, Mônica e Magali, as duas filhas de verdade que inspiraram as personagens fictícias.

Mauricio de Sousa jamais relegou a segundo plano a passagem dele pela Cidade. Constantemente revela em crônicas, entrevistas e outras publicações, as experiências, lembranças e relacionamentos aqui cultivados e eternizados em personagens.

Chico Bento nasceu da vivência com um tio-avô, caipira na essência, que morava na roça entre Mogi e Santa Isabel, esta sim, a terra-natal do escritor. Horácio surgiu das aulas dadas pelo verdadeiro professor Horácio da Silveira.

Cascão e Cebolinha não fogem à regra e possuem, na certidão de nascimento, traços mogianos: o inimigo número um do banho e o garoto que troca o “r” pelo “l” tiveram como fonte de inspiração dois amigos de infância do irmão do desenhista, Márcio de Sousa.

Ao contrário de mogianos, muitas vezes nem tão ilustres assim, mas alçados à condição de celebridades, que procurar ignorar ou até esconder a Cidade, Mauricio de Sousa sempre manteve uma permanente proximidade com Mogi das Cruzes. Sempre que possível, retorna a muitos dos endereços onde brincou e estudou na infância para colher recordações e histórias da família Sousa.

Há alguns dias, ele começou a conversar com moradores antigos que pudessem indicar qual seria a identidade de seu avô paterno, ao que parece, um comerciante, dono de um armazém na região do Mercado Municipal no início do século passado.

Em entrevista concedida ontem a O Diário, o candidato a uma justa vaga na Academia Paulista de Letras (APL), dividiu mais uma página de sua trajetória com a Cidade, ao detalhar a procura pelo avô, que teve um relacionamento com a avó dele, Benedita Rodrigues, antes de ela se casar com Adelino de Toledo, que assumiu a criação do pai de Mauricio, Antônio Mauricio de Sousa.

Para escrever a própria história, o escritor está à procura de outras pessoas que possam auxiliá-lo. Seria muito interessante se os mogianos atendessem ao pedido.

Para isso, uma ferramenta foi lançada, dias atrás, pelo jornalista Júlio Moreno. Ele está propondo a elaboração de uma espécie de gibi de memórias do Mauricio, a ser montado com a reunião de documentos, fotografias, relatos e desenhos antigos sobre a passagem do criador da Turma da Mônica por Mogi das Cruzes.

A ideia de Julio Moreno servirá para prestar uma homenagem a esse morador que trocou a Região pela Capital, mas que daqui nunca esteve ausente. Prova disso é a manutenção do título de eleitor na Cidade. No primeiro turno passado, em 3 de outubro último, ele enfrentou a concorrida fila das seções eleitorais da escola Washington Luiz, onde cursou o ginásio, para votar.

Uma resposta aos dois intentos será uma bela oportunidade de Mogi das Cruzes retribuir o carinho e respeito a ela dedicados pelo seu desenhista.

Expedicionário ajuda desenhista

Texto de MARA FLÔRES

                                   (Transcrito de “O Diário de Mogi” de 20/10/10)

Professor e ex-combatente, o mogiano Miled Cury Andere acredita que o mistério que cerca a identidade do avô paterno do desenhista Mauricio de Sousa está muito perto do fim. Desde agosto, o criador da Turma da Mônica, que nasceu em Santa Isabel, mas foi criado em Mogi das Cruzes, está em busca de pistas na Cidade que permitam completar a árvore genealógica da família, como O Diário revelou na edição de ontem. E uma das pessoas que deu dicas para desvendar o caso é justamente o expedicionário.

“Acho que vai causar muita surpresa”, disse Andere, que em agosto esteve com Maurício de Sousa e, segundo o próprio, deu “dicas certas” para que o desenhista encontre o seu avô paterno de sangue. “Tenho minha desconfiança e é gente conhecida, de família tradicional. Mas não posso dizer nada porque quem precisa fazer isso é o Maurício. Porém, acredito que em breve ele vai solucionar esse mistério”, declarou.

Miled Andere revelou que conhece o desenhista desde pequeno, quando ele veio com a família de Santa Isabel para Mogi e, mais tarde, chegou a ser seu professor no Washington Luís. Mas foi mesmo na barbearia do pai do cartunista, Antônio Mauricio de Sousa, que a amizade brotou. “Eu fui muito amigo do pai do Mauricio de Sousa. Ele era o meu barbeiro e o meu consultor de poesia. Tanto ele, quanto a Petronilha, mãe do Maurício, eram poetas. Quando escrevia as minhas poesias, sempre levava para que dessem uma olhada. Assim, vi o Maurício crescer”, contou.

Os avós paternos do desenhista, Andere não chegou a conhecer, mas como muitos dos mais antigos, também sabe da história. A avó de Sousa, Benedita Rodrigues, teve um caso sério, que resultou no nascimento do seu pai, mas casou-se com Adelino Toledo, com quem viveu até morte e que foi quem assumiu a família. O nome verdadeiro do outro homem, porém, nunca foi revelado. “Durante toda minha infância, era assunto sobre o qual ninguém falava nada”, admitiu o desenhista, que na próxima semana completará 75 anos e está decidido a descobrir o que sempre esconderam.

As pistas obtidas por Mauricio de Sousa até agora já permitiram saber que seu avô verdadeiro era dono de um armazém nas proximidades do Mercado Municipal e era um homem alto, magro, com testa larga, cabelos pretos, que falava com sotaque “turco”. “Ele está atrás e vai descobrir quem é o seu avô”, opinou Miled Andere.

Há poucos dias, o jornalista Julio Moreno, que é colunista de O Diário, lançou o desafio de reunir o máximo de lembranças, fotos e desenhos que remetam a passagem de Mauricio de Sousa por Mogi das Cruzes com o objetivo de criar um gibi que vai contar a história do desenhista. Afinal, foi aqui que o pai da Mônica, Magali, Cebolinha, Cascão, Chico Bento encontrou inspiração para criar não só esses, mas tantos outros personagens das histórias de quadrinhos conhecidas no mundo todo.

Um gibi com a história de Maurício

Texto de SABRINA PACCA

                                         ( Transcrito de “O Diário de Mogi” de 17/10/10)

O jornalista Júlio Moreno, colunista de O Diário, lançou um desafio em seu último artigo intitulado “Um presente para Mauricio de Sousa”, publicado no dia 29 de setembro: compilar as memórias dos mogianos sobre o talentoso desenhista, mundialmente conhecido, em uma espécie de gibi. Para isso, Moreno pediu aos leitores que tiverem fotografias, desenhos antigos e lembranças do cartunista, que viveu na Cidade durante a infância, que encaminhassem esse material para o e-mail

juliomoreno@odiariodemogi.com.br.

O pedido já surtiu efeito. De acordo com o jornalista, ele recebeu algumas informações, mas precisa de mais. Por isso, a partir dessa semana, o jornal ajuda Moreno na empreitada de reunir as histórias de uma parte da vida de Mauricio de Sousa. Vamos buscar as pessoas que conheceram o artista, que brincaram com ele nas ruas de Mogi e até inspiraram seus personagens. Nesta primeira matéria, porém, contaremos um pouco sobre o desenhista e sobre a ideia de Moreno.

“Surgiu quando li uma notícia de que ele se candidatou a uma vaga na Academia Paulista de Letras. Coincidentemente, no próximo dia 27, o Mauricio completará 75 anos. Então fiquei me lembrando da época em que convivi com o irmão dele, o Marcio, e que acompanhei toda a evolução de sua carreira como desenhista, criando aqueles personagens incríveis. Também o sigo no Twitter e sempre o Mauricio fala de Mogi, com muito carinho. Dias desses, ele contou que estava na Cidade à procura de informações sobre seu avô paterno. Achei interessante e pensei que poderíamos ajudá-lo a resgatar essas lembranças da infância. O Mauricio merece ganhar da gente, nessa ocasião em que ele se candidata à Academia e também pelo seu aniversário, uma coisa diferente: um gibi de memórias”, explica Moreno.

Oportunidade

Para ilustrar as pequenas histórias que serão contadas no gibi, Moreno está à procura de um desenhista mogiano, jovem, que aceite a façanha de retratar tanto Mauricio quanto seus amigos, vizinhos, enfim, pessoas que fizeram parte da vida do artista. “Quero encontrar algum menino que desenhe bem e que esteja disposto a me ajudar. Quem tiver interesse pode me mandar um e-mail”, informa Moreno.

A intenção do jornalista é entregar, pessoalmente, esse livreto para Mauricio. “Vou fazer apenas um exemplar para dar de presente para ele. Mas não quero ir sozinho. Quero chamar um pequeno grupo de mogianos para representar todo esse município que admira o trabalho dele”, adianta.

INFÃNCIA EM MOGI INSPIRA PERSONAGENS

Mauricio de Sousa nasceu em Santa Isabel, em 1935. Filho de pai poeta e barbeiro, Antônio Mauricio de Sousa e mãe poetisa, Petronilha Araújo de Sousa, teve mais três irmãos: Mariza (já falecida), Maura e Marcio. Com poucos meses, Mauricio foi trazido pela família para Mogi das Cruzes, onde passou parte da infância, numa época em que era possível brincar na rua sem se preocu­par com a violência e o vaivém frenético dos carros. Toda a mole­cagem, diga-se de passagem, foi o que inspirou a criação da história em quadrinhos, em 1959, como ele próprio contou em uma das edições do Diário dos 450, exibido aos sábados pela TV Diário.

“As minhas memórias mais remotas de Mogi das Cru­zes são da Rua Ipiranga, onde eu e a molecada íamos para jogar bolinha, empinar pipa, papagaio, correr, brincar de esconde-esconde. Para você ter uma ideia de como era o clima da rua, de vez em quando, a gen­te ouvia um berrante e aí já sabí­amos que estava vindo a boaida. Então a gente tirava as bolinhas da rua e ia para a janela da casa da minha vó, que era uma janela bem grande. Os beirais naque­la época eram muito grandes, então cabia eu e mais dois. Aí a nossa brincadeira era segurar nos chifres dos bois enquanto eles passavam”, lembrou o desenhista, durante o programa.

As épocas de estudante também deixaram saudades. Mauricio estudou na Escola Estadual Coronel Almeida e, com seus colegas, chegou a nadar no Rio Tietê. “Minha madri­nha mudou lá para perto do Clube Náutico, e quando dava enchente a água chegava na porta da cozinha da casa. Era acordar, tomar café e mergulhar na enchente”, revelou.

As experiências da infância fizeram dele um menino que começou cedo a desenhar o próprio futuro. Foi engraxate na barbearia do pai, tra­balhou como datilógrafo numa auto-escola, no escritório de uma serraria, numa cooperativa de produtos agrícolas e fazia também seus desenhos, vendia alguns deles para os pro­fessores darem aula e isso ajuda­va no orçamento doméstico.

Os desenhos fizeram sucesso e muitos personagens são inspirados em mogianos, como o Chico Bento, que segundo o próprio Mauricio, era um tio avô dele que morava na roça entre Mogi e Santa Isabel; o Horácio que foi seu professor; o Cascão também existiu e era mogiano, mas não foi colega de infân­cia dele e sim do irmão, Márcio, quando eles brincavam no Bairro do São João. “Brincavam junto com o Cebola, que era um outro garoto com cabelo espe­tado e que trocava o r pelo l”, destacou Mauricio, lembrando que a Magali e a Mônica são suas filhas e que também têm forte ligação com a Cidade. (S.P.)

Um presente para Maurício de Sousa

setembro 29, 2010 1 comentário

O primeiro personagem do caricaturista Maurício de Sousa foi Bidú,   inspirado em seu cãozinho de estimação. Um professor de História de Mogi emprestou o nome para o dinossaurinho Horácio. A filha Magali ganhou uma homônima em quadrinhos, tão enérgica quanto a original.

Maurício de Sousa não raras vezes sacou da vida ao seu redor as idéias para suas historietas. Está na hora de invertermos o jogo. Vamos colocá-lo como personagem principal de uma HQ de edição única ?

Minha proposta é criamos coletivamente uma espécie de “gibi de memórias” do talentoso artista. Para darmos a ele, como presente de Mogi, em 2 de dezembro, manifestando nossa torcida para que a Academia Paulista de Letras o eleja para sua cadeira 24. Naquela data, haverá a escolha do novo ocupante da vaga deixada em aberto com a morte do poeta e jurista Geraldo de Carmargo Vidigal.  Maurício é candidato.  

Como criar o tal “gibi de memórias de Maurício de Sousa” ?  É  simples. Você estudou com ele no Cel Almeida ou no Washington Luis ? Tem guardado um daqueles rabiscos que Maurício fazia em seus cadernos ? Foi seu vizinho ? Tem alguma história para contar a respeito de sua infância na cidade ? Qualquer detalhe vale. Conheceu seus pais, o barbeiro Antônio e a poetisa Petronilha ?  E os irmãos ? Etc. etc. etc.

Quem quiser dar sua contribuição, por favor escreva para este colunista, utilizando o e-mail publicado lá em cima. Quem tem desenhos ou fotos, se viável mande cópias scanneadas, mas guarde consigo os preciosos originais. Se não for possível, basta contar o que possui em mãos e a gente conversa depois. Identifique bem datas e personagens.

O momento para o presente é oportuníssimo. Desde julho, a versão animada da “Turma da Mônica” está nas telas da TV Globo nas manhãs de sábado.  Há poucas semanas, ele foi homenageado na China, onde as historietas da mesma turminha são usadas em cartilhas educacionais na rede infantil. No próximo dia 27 de outubro, Maurício  completa 75 anos de idade. E, para coroar, tem o evento da APL, onde ele chances enormes de ser eleito por sua vasta obra não só em HQ, mas também em livros (inclusive em Braile), na internet, em CDRoms, no cinema e na TV.  

Tem mais, tem mais. Maurício anda saudoso da gente. Em fins de agosto, ele postou no seu twitter que esteve anonimamente em Mogi em busca de laços com seu passado. Visitou uma casa onde morou, num beco sem saída próximo à Padaria Copacabana (esquina da dr. Deodato com a Ipiranga). 

Na ocasião, Maurício manifestou especial interesse em obter informações de seu avô paterno, “sumido da história da família”. Tai uma coisa em que podemos ajudá-lo, juntando dados para o “gibi de memórias”.

Maurício nasceu em Santa Isabel, hoje trabalha em São Paulo e nos fins de semana descansa em sua chácara em Caçapava, onde desfruta de belos espetáculos do sol.  

Bebê ainda, veio com a família para Mogi, onde passou parte de sua infância. Outra parte, conta ele, foi vivida em São Paulo, onde o pai trabalhou  em estações de rádio.  Sua primeira escola foi num externato na Capital.

Em Mogi, já pequeno, trabalhou em rádio e ainda tentou o canto e a dança. Mas sua paixão mesmo eram os desenhos. Para ajudar no orçamento da casa, desenhou cartazes e pôsteres. Você não teria algum em casa ?  E exemplares do “Mogi Esportivo”, jornal que publicou suas primeiras tiras ? Puxe pela memória, mexa em baús…Participe.

                                                                                                                          Júlio Moreno

 (Publicado em “O Diário de Mogi” de 29/09/10)