Arquivo

Posts Tagged ‘dona’

O barbeiro e a dançarina de tango

Sigo recebendo contribuições para a confecção do “gibi de memórias” dos anos vividos por Maurício de Sousa em Mogi. Delas, alguns “causos” retratam também seus pais, Maurício e Petronila.

Seo Maurício era barbeiro, lá pelo final dos anos 50 e início dos anos 60 do século passado, ele tinha uma barbearia na avenida Getúlio Vargas. Paulo César Ambrósio, hoje engenheiro radicado em Santos, era um dos seus fregueses.

Na ocasião, ele tinha uns oito, nove anos. Os tempos eram difíceis, ele levava uma vida simples, morando no “fim” da cidade, mais precisamente na região do ponto final do ônibus “São João”, hoje caminho para Bertioga. Por ali ficava também a barbearia do pai do desenhista.

“Meu corte de cabelo preferido era o “americano”. A barbearia era muito simples e o detalhe interessante eram as “tirinhas” coladas em madeira (ou papelão ?) penduradas pelas paredes, com historinhas do Bidu e do Franjinha, que eu sempre lia esperando a minha vez. A assinatura nas tirinhas não deixava qualquer dúvida quanto ao autor.  Era tão óbvio, para mim, que qualquer questionamento tornava-se desnecessário”.

Certo domingo, ao ler a Folha de S.Paulo, que seu pai comprara, Paulo teve uma surpresa, vendo as tirinhas do Maurício publicadas no jornal.  “Pensei comigo: “Caramba! As historinhas do seo Mauricio no jornal! Ele ficou famoso!” E lá fui eu, no meu próximo corte, dizer a ele que tinha visto suas criações na Folha.”. Após ouvi-lo com toda atenção, o barbeiro explicou que o verdadeiro autor era seu filho, que se mudara para São Paulo.

Paulo confessa que ficou decepcionado. Seo Maurício, por sua vez, deve ter ficado tri honrado: pelo reconhecimento do trabalho do filho, pelo garoto do corte “americano” ter imaginado que ele era o autor das tirinhas e, além do mais, porque a decoração de seu humilde estabelecimento despertava a imaginação das crianças e jovens.

Também lá pelo início dos anos 60, o leitor José Fernandes, hoje professor  aposentado, conheceu Maurício e sua mãe, que todos chamavam de “dona Nila”.  Ela era miúda de corpo, mas tinha presença marcante por causa de sua alegria, espírito alegre, diferentemente do marido, mais fechadão, ainda que boa gente.

José freqüentava os bailes do União F.C. e toda vez que o conjunto musical tocava tango ele ficara de fora da pista, por não saber dançar. Dona Nila, por sua vez, dominava a arte com muita elegância, impressionando a todos.

Na roda de José tinha duas primas do Maurício, Ditinha e Guiomar, filhas de dona Anália, irmã de dona Nila. Aproveitando a proximidade, certo dia ele criou coragem e pediu para ela ensiná-lo a dançar tango. Ao que ela respondeu: ”Vamos para a casa do meu filho”. Maurício morava, então, numa casa da rua Otto Unger, a última de uma vila em frente ao supermercado Shibata.

“Como era época de Natal, o Maurício havia enfeitado a árvore de Natal com cascas de ovo todas desenhadas com motivos natalinos. Naquele dia mostrou-me as primeiras matrizes dos desenhos inspirados nas filhas Mônica e a Magali. Achei interessante, mas não dei maior importância, porque queria mesmo era aprender a dançar tango”.

José trabalhou com dona Anália na Cia. Suzano. “Muito anos se passaram, , a encontrei e perguntei: e o Maurício ?  Ela contou que por diversas vezes ele vinha de Caçapava com Dona Nila, embarcando-as num avião”. Destino: a Disneylândia. 

                                                            Júlio Moreno

(Publicado em “O Diário de Mogi” de 12 de janeiro de 2011)