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As memórias de Maurício

                                             (Editorial de “ODiário de Mogi” de 20/10/10)

O desenhista Mauricio de Sousa está buscando desvendar a própria história. Ao cruzar a casa dos 74 anos, o criador de uma das mais importantes obras literárias infantis procura por parentes distantes para compor a árvore genealógica familiar. Ele iniciou a procura por suas raízes com uma incursão por Mogi das Cruzes, Cidade onde passou a infância e adolescência, e viu nascer, anos mais tarde, Mônica e Magali, as duas filhas de verdade que inspiraram as personagens fictícias.

Mauricio de Sousa jamais relegou a segundo plano a passagem dele pela Cidade. Constantemente revela em crônicas, entrevistas e outras publicações, as experiências, lembranças e relacionamentos aqui cultivados e eternizados em personagens.

Chico Bento nasceu da vivência com um tio-avô, caipira na essência, que morava na roça entre Mogi e Santa Isabel, esta sim, a terra-natal do escritor. Horácio surgiu das aulas dadas pelo verdadeiro professor Horácio da Silveira.

Cascão e Cebolinha não fogem à regra e possuem, na certidão de nascimento, traços mogianos: o inimigo número um do banho e o garoto que troca o “r” pelo “l” tiveram como fonte de inspiração dois amigos de infância do irmão do desenhista, Márcio de Sousa.

Ao contrário de mogianos, muitas vezes nem tão ilustres assim, mas alçados à condição de celebridades, que procurar ignorar ou até esconder a Cidade, Mauricio de Sousa sempre manteve uma permanente proximidade com Mogi das Cruzes. Sempre que possível, retorna a muitos dos endereços onde brincou e estudou na infância para colher recordações e histórias da família Sousa.

Há alguns dias, ele começou a conversar com moradores antigos que pudessem indicar qual seria a identidade de seu avô paterno, ao que parece, um comerciante, dono de um armazém na região do Mercado Municipal no início do século passado.

Em entrevista concedida ontem a O Diário, o candidato a uma justa vaga na Academia Paulista de Letras (APL), dividiu mais uma página de sua trajetória com a Cidade, ao detalhar a procura pelo avô, que teve um relacionamento com a avó dele, Benedita Rodrigues, antes de ela se casar com Adelino de Toledo, que assumiu a criação do pai de Mauricio, Antônio Mauricio de Sousa.

Para escrever a própria história, o escritor está à procura de outras pessoas que possam auxiliá-lo. Seria muito interessante se os mogianos atendessem ao pedido.

Para isso, uma ferramenta foi lançada, dias atrás, pelo jornalista Júlio Moreno. Ele está propondo a elaboração de uma espécie de gibi de memórias do Mauricio, a ser montado com a reunião de documentos, fotografias, relatos e desenhos antigos sobre a passagem do criador da Turma da Mônica por Mogi das Cruzes.

A ideia de Julio Moreno servirá para prestar uma homenagem a esse morador que trocou a Região pela Capital, mas que daqui nunca esteve ausente. Prova disso é a manutenção do título de eleitor na Cidade. No primeiro turno passado, em 3 de outubro último, ele enfrentou a concorrida fila das seções eleitorais da escola Washington Luiz, onde cursou o ginásio, para votar.

Uma resposta aos dois intentos será uma bela oportunidade de Mogi das Cruzes retribuir o carinho e respeito a ela dedicados pelo seu desenhista.

Um gibi com a história de Maurício

Texto de SABRINA PACCA

                                         ( Transcrito de “O Diário de Mogi” de 17/10/10)

O jornalista Júlio Moreno, colunista de O Diário, lançou um desafio em seu último artigo intitulado “Um presente para Mauricio de Sousa”, publicado no dia 29 de setembro: compilar as memórias dos mogianos sobre o talentoso desenhista, mundialmente conhecido, em uma espécie de gibi. Para isso, Moreno pediu aos leitores que tiverem fotografias, desenhos antigos e lembranças do cartunista, que viveu na Cidade durante a infância, que encaminhassem esse material para o e-mail

juliomoreno@odiariodemogi.com.br.

O pedido já surtiu efeito. De acordo com o jornalista, ele recebeu algumas informações, mas precisa de mais. Por isso, a partir dessa semana, o jornal ajuda Moreno na empreitada de reunir as histórias de uma parte da vida de Mauricio de Sousa. Vamos buscar as pessoas que conheceram o artista, que brincaram com ele nas ruas de Mogi e até inspiraram seus personagens. Nesta primeira matéria, porém, contaremos um pouco sobre o desenhista e sobre a ideia de Moreno.

“Surgiu quando li uma notícia de que ele se candidatou a uma vaga na Academia Paulista de Letras. Coincidentemente, no próximo dia 27, o Mauricio completará 75 anos. Então fiquei me lembrando da época em que convivi com o irmão dele, o Marcio, e que acompanhei toda a evolução de sua carreira como desenhista, criando aqueles personagens incríveis. Também o sigo no Twitter e sempre o Mauricio fala de Mogi, com muito carinho. Dias desses, ele contou que estava na Cidade à procura de informações sobre seu avô paterno. Achei interessante e pensei que poderíamos ajudá-lo a resgatar essas lembranças da infância. O Mauricio merece ganhar da gente, nessa ocasião em que ele se candidata à Academia e também pelo seu aniversário, uma coisa diferente: um gibi de memórias”, explica Moreno.

Oportunidade

Para ilustrar as pequenas histórias que serão contadas no gibi, Moreno está à procura de um desenhista mogiano, jovem, que aceite a façanha de retratar tanto Mauricio quanto seus amigos, vizinhos, enfim, pessoas que fizeram parte da vida do artista. “Quero encontrar algum menino que desenhe bem e que esteja disposto a me ajudar. Quem tiver interesse pode me mandar um e-mail”, informa Moreno.

A intenção do jornalista é entregar, pessoalmente, esse livreto para Mauricio. “Vou fazer apenas um exemplar para dar de presente para ele. Mas não quero ir sozinho. Quero chamar um pequeno grupo de mogianos para representar todo esse município que admira o trabalho dele”, adianta.

INFÃNCIA EM MOGI INSPIRA PERSONAGENS

Mauricio de Sousa nasceu em Santa Isabel, em 1935. Filho de pai poeta e barbeiro, Antônio Mauricio de Sousa e mãe poetisa, Petronilha Araújo de Sousa, teve mais três irmãos: Mariza (já falecida), Maura e Marcio. Com poucos meses, Mauricio foi trazido pela família para Mogi das Cruzes, onde passou parte da infância, numa época em que era possível brincar na rua sem se preocu­par com a violência e o vaivém frenético dos carros. Toda a mole­cagem, diga-se de passagem, foi o que inspirou a criação da história em quadrinhos, em 1959, como ele próprio contou em uma das edições do Diário dos 450, exibido aos sábados pela TV Diário.

“As minhas memórias mais remotas de Mogi das Cru­zes são da Rua Ipiranga, onde eu e a molecada íamos para jogar bolinha, empinar pipa, papagaio, correr, brincar de esconde-esconde. Para você ter uma ideia de como era o clima da rua, de vez em quando, a gen­te ouvia um berrante e aí já sabí­amos que estava vindo a boaida. Então a gente tirava as bolinhas da rua e ia para a janela da casa da minha vó, que era uma janela bem grande. Os beirais naque­la época eram muito grandes, então cabia eu e mais dois. Aí a nossa brincadeira era segurar nos chifres dos bois enquanto eles passavam”, lembrou o desenhista, durante o programa.

As épocas de estudante também deixaram saudades. Mauricio estudou na Escola Estadual Coronel Almeida e, com seus colegas, chegou a nadar no Rio Tietê. “Minha madri­nha mudou lá para perto do Clube Náutico, e quando dava enchente a água chegava na porta da cozinha da casa. Era acordar, tomar café e mergulhar na enchente”, revelou.

As experiências da infância fizeram dele um menino que começou cedo a desenhar o próprio futuro. Foi engraxate na barbearia do pai, tra­balhou como datilógrafo numa auto-escola, no escritório de uma serraria, numa cooperativa de produtos agrícolas e fazia também seus desenhos, vendia alguns deles para os pro­fessores darem aula e isso ajuda­va no orçamento doméstico.

Os desenhos fizeram sucesso e muitos personagens são inspirados em mogianos, como o Chico Bento, que segundo o próprio Mauricio, era um tio avô dele que morava na roça entre Mogi e Santa Isabel; o Horácio que foi seu professor; o Cascão também existiu e era mogiano, mas não foi colega de infân­cia dele e sim do irmão, Márcio, quando eles brincavam no Bairro do São João. “Brincavam junto com o Cebola, que era um outro garoto com cabelo espe­tado e que trocava o r pelo l”, destacou Mauricio, lembrando que a Magali e a Mônica são suas filhas e que também têm forte ligação com a Cidade. (S.P.)